Evocações
Há paixões que não obedecem às linhas estabelecidas pela nossa mente e se recusam a permanecer esgotadas no passado, tenham ou não se convertido em amor. Simplesmente, estão sempre prontas, a aproveitar quaisquer reminiscências, seja uma música, uma frase dita por alguém, uma poesia, uma leitura. E voltam para nos torturar. Sim, só pode ser uma espécie de punição. Em nossa vida, até mesmo por instinto de sobrevivência, procuramos varrer de nossa mente as situações que não deram certo, que mesmo durando um tempo razoável onde vivemos momentos felizes, ao final nos deixaram caídos. Então, vem aquela dorzinha incômoda, a dor do "se...", que de forma aguda nos fustiga e a cada vez que aparece traz sempre uma nova interrogação a ser analisada e respondida. E por mais que tentemos fugir dessas recordações, surge a vontade de imaginar as soluções que não ocorreram e que agora, tanto tempo depois, nos parecem perfeitamente possíveis.
E estes são momentos que vivemos, na maioria das vezes, sozinhos. É muito difícil encontrar quem suporte esse tipo de memória do outro. Não adianta fugir. Quando chega a maré das recordações, mesmo aprisionadas, é melhor deixar vir, surfar aquela onda violenta que nos traz de volta a emoções intensamente vividas.
Ah! Saudade! Aquele amor foi construído sobre partes e pedaços do que nos havia restado após tantos desencontros. E tudo possuía para não dar certo, para ser mais uma vã tentativa, desesperada, quase desacreditada, para ambos. No entanto, a falta de rotina do imprevisível e do incomum resolveu agir. E para nossa surpresa, conseguimos passar por tantas dificuldades, renúncias pessoais em nome do sentimento maior. Éramos tão felizes. Por que tudo acabou? De novo essa pergunta desagradável e novamente não há resposta. Quando acabou? Ou melhor, quando começou o fim, pois toda despedida de um amor não se dá de imediato, é preciso haver um penoso processo a desencadear as ações definitivas.
Sabe, eu me lembrei daquele passeio nas montanhas de Minas, da nossa maravilhosa permanência naquela fazenda, sozinhos, bem lá no fim do mundo. Como se fosse um filme, cada cena daqueles momentos de paixão louca em noites inteiras de amor intenso, apenas a música da natureza e o calor da lareira e você trazendo o vinho nos pequenos intervalos que nos concedíamos. Não, não creio que você também não sinta essa mesma dor, essa chicotada de um passado que um dia foi tão feliz, mesmo terminando tão mal, com tanta amargura. Amor e dor. Tudo junto agora. Preciso dar esse espaço, conceder um pouco de meu tempo a essas memórias do que foi e ainda podia estar sendo.
Não acredito nas pessoas que dizem ter se apaixonado e jamais tiveram essa dor. Penso ser absolutamente impossível conviver tranquilamente com uma paixão que passou como um raio em nossas vidas e ao lado das ondas de calor nos deu alguns dramáticos banhos de águas geladas. Não há como escapar de algo assim.
E a mente vai deslizando, absorta, desviando dos caminhos da sensatez, navegando nas doces recordações até que! Boom! Veio a cena final, as palavras que jamais deveriam ser ditas, o tudo que represado saiu de maneira tão brutal e estúpida e como um borrão maculou a pintura que se fazia tão bonita, em cores tão brilhantes. Final da hora das lembranças. É preciso recomeçar e aceitar a vida, como sempre, esperar calmamente por novas sensações. Ou não. Deixar apenas...acontecer...
Diana Esnero
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