terça-feira, julho 27, 2010

Sonhos da Noite



Sonhos da Noite

Em cada sonho inesperado, no andar da noite, uma memória interrompida que precisa entrar. É sempre assim, sem a polícia atenta do consciente, as ondas de recordações e vontades sufocadas vencem todas as resistências e afloram, vitoriosas, perpassando todas as cenas, cada uma, bem devagar. E não adianta lutar, pois estamos imersos nos doces mistérios da sonolência, os quais não podemos alcançar. Por vezes acordamos, seja um barulho mais crítico ou uma necessidade do corpo e tentamos, dependendo do tema, forçar a continuidade ou apagar de vez o que nos deu sobressaltos desagradáveis de momentos dispensáveis de nossa história.
No entanto, é preciso sonhar, sempre, qualquer sonho, pois nossa mente necessita de escapes, especialmente os noturnos, quando as vigílias se afrouxam e tudo ou quase tudo é permitido para que a alma se expanda e forje suas vontades mais escondidas. Sempre me perguntei de onde vêm os sonhos, qual será o grande mistério que os envolvem, como fazem para derrotar nossas pretensões de controle, quais mecanismos de nosso cérebro os selecionam para virem de forma tão surpreendente como surgem?
Por vezes somos surpreendidos por personagens que há muito estavam ausentes de nossas reminiscências, algumas doces visitas do passado, outras, arrepios de lembranças mal findadas, pedaços que arrancamos de nossas idéias, a fórceps, para não doer ainda mais. E quantas vezes a surpresa se instala, ao lembrarmos, acordados, que no sonho recém desperto, os fatos ocorreram exatamente como queríamos, mudando o curso da biografia, concretizando as mais infundadas esperanças.
Sim, é preciso sonhar, mesmo quando nos sobressaltamos, mesmo quando não há romance ou final tão feliz. Nesses momentos, creio eu, empiricamente, o nosso encéfalo talvez queira nos forçar a admitir verdades não aceitas, narrativas que foram cortadas pela defesa de nossos controles mais severos.
Preciso sonhar, sempre, a cada dia, para que o caminhar seja sempre interpretado, querendo eu ou não, admitindo que existam forças que desconhecemos, guardadas dentro de nós, a nos alertar sem qualquer aviso ou pedido de entrada, demonstrando apenas e tão somente que não somos os comandantes supremos nem mesmo de nossos pensamentos mais profundos.
Diana Esnero

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