A VIDA E A POESIA DA VIDA
Tenho me questionado se ainda há espaço para a poesia naquele ser que vive uma vida sem encantos. Sabemos que não está nada fácil, para a enorme maioria das pessoas, viver e sobreviver. E como se não bastassem as dificuldades habituais do dia a dia, as horas de transporte desconfortável, os engarrafamentos, a má-vontade do desconhecido em ser gentil nas situações de coexistência forçada, os desafios no ambiente de trabalho, o equilíbrio entre o orçamento doméstico apertado do salário (da maior parte), a dura convivência com a realidade que nos cerca, surge a dificuldade de administrar a própria sensibilidade, tão afetada. Em resumo, as situações estão bem mais intrincadas. Seja aquilo que vemos, presenciamos ou o que nos é apresentado pela mídia em suas opções. E não adianta fugir das notícias, abstendo-se de ler jornais e revistas porque os diálogos que vamos encontrar não falarão de outros assuntos.
Diante do desespero, o equilíbrio entre a realidade nua e crua e o patamar dos sonhos muitas vezes se rompe. Há os que se acomodam na desesperança, encarando o seu destino como imutável, como se estivesse selado, uma figurinha carimbada da dor. Outros enlouquecem de vez e começam a extrapolar em todas as suas vivências, como se o mundo não mais tivesse o amanhã. Muitas opções e comportamentos se alternam: procurar por consolo em qualquer possibilidade de afeto mesmo sabendo que vai doer e sangrar depois, empastelar-se da "fé" vazia no homem que se julga deus, enclausurar-se no individualismo que mata. Transformar-se num crítico ácido e tenaz dos sentimentos!
No entanto e apesar da descrença de muitos existe a POESIA, representada pelas letras, palavras e frases que guiadas pela inspiração e o êxtase da observação atenta constroem outra vida possível, a princípio paralela, mas que com a dedicação e a constância passam a ser o tema da caminhada. Os mais céticos já estarão desistindo de continuar a leitura e classificar-me como piegas. Ledo engano. A conferir.
O que posso dizer a essas pessoas? Simplesmente que não aceitem que alguém mate a sua capacidade de sonhar e expressar os seus desejos e esperanças. Ainda que essa pessoa seja você mesmo, aquele eu localizado lá no interior, ele mesmo, que com certeza já lhe impediu de tentar, de arriscar, de fazer valer a sua existência. O inimigo interno, o mais forte, que trava, que não lhe deixa movimentar-se em nenhuma direção.
Na poesia, a vida é mágica e surpreendente. Amamos e somos amados, vivemos as emoções mais doces e intensas, ou seja, vivemos, sem qualquer compromisso com a realidade! Não diga que estou delirando. Não mesmo. São décadas de experiência na magia das palavras. Nelas tive amores e mais amores, encontros de desejos inesquecíveis. Conheci os homens mais maravilhosos e gentis, os artífices do amor. Em minhas poesias os amores quase nunca me abandonam e quando o fazem logo se arrependem e voltam cheios de saudades. E as feridas, rápidas se cicatrizam. Em algumas ocorreram desilusões, decepções, pois tudo faz parte desse sortilégio em que os enredos correm por nossa conta e escolha. São as necessárias pausas nos desertos que assolam a vida real em determinadas épocas e contra os quais não há antídotos ou fórmula. E isso é tão bom, tão prazeroso que as pessoas que me rodeiam nunca sabem por qual caminho trilha meu coração.
Olhar para o mundo sob as perspectivas mais elaboradas e encantadas que cada poeta nos oferece em suas divagações pelos redemoinhos de suas mentes e sensações. Uma delícia. Lemos construções de enredos que nos enlevam e elevam. Quantas vezes alguém ao "poetar" escreve algo que nos cala, nos emudece, estremece o nosso sentir mais profundo, como se a seta fosse direcionada a nós! E a POESIA é tão extraordinária que mesmo quando retrata a dor, a tristeza, com ela nos identificamos e somos solidários. Desejamos intervir, participar, entrar naquele devaneio. A satisfação estética une-se a um novo vigor que emerge desse jogo gostoso que anima a vida e nos faz mais fortes e revigorados para agarrarmos "os nossos touros" diários à unha! A singeleza e a luta, a eterna dicotomia.
É um convite. Aceite!
Diana Esnero