quarta-feira, março 24, 2010

Ponto de Mutação – Mudança de Paradigmas

Ponto de Mutação – Mudança de Paradigmas
A minha geração foi fortemente influenciada pelos teóricos da chamada esquerda, pelos socialistas e os comunistas. Digo "a chamada esquerda" porque não consigo mais identificar os ideais daquela época naquilo em que se converteu a "esquerda" de hoje, especialmente aqui no Brasil, onde adotou todas as práticas que condenava e pior, aperfeiçoou, numa velocidade tão espantosa e com uma articulação e logística tão bem feitas, que se não fosse o refinamento da mídia e a liberdade de imprensa (apesar dos percalços tipo censura ao Estadão e a insuportável campanha atual da ditadura do pensamento único) adicionada à coragem de juízes de primeira instância, promotores e delegados, estaríamos como Carolina, a do Chico Buarque, onde o tempo passou na janela e só ela não viu.
Participei ativamente de movimentos estudantis na adolescência e juventude, nos grêmios estudantis e diretórios acadêmicos. Sonhávamos que a riqueza de uma nação era para ser distribuída de forma equânime entre todos os cidadãos. A desigualdade de renda e as injustiças sociais que vivenciávamos sempre foram debates prioritários durante as décadas de 60 e 70, em que passei pelo ensino médio e universitário (pela primeira vez). Não havia grêmio estudantil ou diretório universitário onde as discussões acaloradas e as idéias não brotassem de forma intensa e espontânea em cada um de nós. E estávamos vivendo um momento político conturbado. Alguns saíram dos palanques estudantis e da repressão nas passeatas e reuniões abertas para o movimento de luta armada. Não vou discutir as razões de escolha de cada um. Muitas dores e desencontros se passaram. De ambos os lados.
Com toda a certeza José Serra e Dilma Rousseff estavam na luta contra a ditadura militar, cada um com suas opções. Portanto, é ridículo falar que um é de esquerda e o outro não, a menos que esquerda signifique ou significasse apenas a luta armada e excluísse as demandas sociais participativas e o comprometimento em ações afirmativas de idéias! Quando a realidade se sobrepôs, passamos um hiato triste na história em nosso País no que se refere às liberdades de expressão e direitos individuais e coletivos. Mas não posso ignorar algumas conquistas na infraestrutura. Seria hipocrisia. E vimos o mundo assistir em estado de graça a queda do Muro de Berlim e a consequente decaída do comunismo como um regime que fracassou em seus ideais, pois nada de igualitário foi o que se encontrou depois que os muros do leste europeu e o esfacelamento da outrora URSS se desvendaram em sua triste realidade para todo o mundo.
Infelizmente as idéias socializantes e benéficas sempre esbarram no individualismo exacerbado do ser humano. O exercício do poder é o maior teste de caráter que alguém pode viver. Da realidade à megalomania, da sensatez aos eflúvios ardentes que o poder conduz consigo, poucos escapam. Vale ressaltar que os grandes ideólogos ditos de "esquerda" eram todos burgueses. A enorme evolução das comunicações, fazendo do planeta um quarteirão de rua, faz com que as informações mais detalhadas circulem na web e ganhem o mundo. Mais uma vez os muros caíram.
Acho patético, por exemplo, ver um grande literato de nosso tempo que se afirma comunista e ateu, viver confortavelmente, em sua casa paradisíaca, em uma ilha quase particular, sorvendo dos prazeres que o muito dinheiro que ganhou lhe pode dar, sem dividir com ninguém. Ao mesmo tempo, convivo com pessoas humildes, que trabalharam duramente por toda a vida, contribuindo para receber uma miserável aposentadoria do INSS e que se assumem conservadoras! E ainda fazem trabalho voluntário e dividem o pouco que têm.
Digo sem qualquer receio que considero que a análise de alguns ex-militantes é a melhor feita sobre os acontecimentos relativos à luta armada da época. Tudo desestruturado e sem buscar as bases do apoio popular. Objetivos estranhos entre os vários grupos. Davi competindo com Golias, mas sem o amparo bíblico, um lutador de vale-tudo versus a suavidade de um bailarino clássico. Não dá! Para mudar o mundo, já se disse, é necessário e suficiente que os diversos atores da História o queiram. Ninguém pode se autodenominar o "salvador da Pátria" ou ter a pretensão de ser o oráculo das decisões de uma nação ou povo. Precisa combinar com a população, não é decisão de um único ou de um grupo.
Já sei que muitos ao lerem este artigo surgirão com aquele comentário mais batido que roupa na máquina de lavar: todo esquerdista se torna na maturidade um conservador! Alto lá, não autorizo ninguém a classificar-me assim. A vida, quando intensamente vivida, deve ser refletida, todos os acontecimentos e idéias passam por transformações, não se trata de atravessar uma rua, da esquerda para a direita ou vice-versa. Não é revisionismo, mas a busca do equilíbrio necessário do amadurecimento. E tudo à custa de muita pancada.
Duvido que a grande maioria da população esteja satisfeita com o enorme lucro auferido pelos Bancos, pelos meros investimentos de capital, aqueles que produzem e multiplicam dinheiro sem os benefícios da oferta de emprego, da propagação de vagas de trabalho, dos benefícios sociais e trabalhistas, da justiça social, do recolhimento dos impostos (com carga absurda em nosso País) que sustentam a nação. Quando vejo um empresário que luta dia e noite, seja ele mini ou macro, que obtém o seu ganho pela produtividade de pessoas, acho admirável. Esse é um patriota!
Agora, não me classifiquem, não plantem em pessoas a etiqueta de direita ou esquerda num momento tão confuso do Brasil como o atual. Escândalos e mais escândalos, corrupção institucionalizada, tolerância e compadrio com as ações criminosas no Erário, alianças espúrias, joio e trigo misturados, indecisão de egos que não admitem a melhor percepção popular, cinismo com o sofrimento de quem morre pela liberdade em países ditatoriais, aliança com líderes externos comprovadamente paranóicos. Vou parar por aqui.
Parodiando o Ministro Joaquim Barbosa, penso que os nossos líderes políticos e até mesmo alguns jornalistas, sociólogos, filósofos e antropólogos deveriam ouvir com muito mais cuidado a voz das ruas, da multidão de brasileiros que não possuem condições de ler seus artigos e trabalhos e cuja única informação vem da televisão, do rádio, dos jornais populares que custam cinquenta centavos. Há no Brasil de hoje uma quantidade espetacular de Blogs bem escritos, com pesquisa cuidadosa e emissão de opiniões sem leviandade e vale pensar que cada um deles fala por um segmento da sociedade. O desenvolvimento sustentável, pela preocupação com o meio ambiente, com o futuro das gerações, a justiça social sem as mazelas das politicagens do clientelismo são os novos paradigmas. Andem de ônibus coletivo, tentem entrar nos metrôs nas horas de pico, tentem ser atendidos nos hospitais públicos ou postos de saúde, sentem ao lado dos caminhoneiros nas estradas, andem pelo sertão. Vão às ruas!
Conversando com a nossa gente, muitos se surpreenderão. Há um desânimo que me entristece em relação às eleições de 2010.  Muito descrédito em ações futuras efetivas que beneficiem o coletivo. Digo, estamos num momento de "turning point" e percebo que muitos estão amedrontados com o que possa vir e sua incapacidade pessoal restrita.
No entanto, vivemos em uma democracia, parece, e assim estou pronta para ouvir quem quer que apresente suas considerações. Reitero que as aspirações e os ideais de uma sociedade justa não se foram, ao contrário, estão mais vivos do que nunca, mas não sei mais quais são os meios mais eficazes e imunes aos lobos que espreitam os cordeiros com tanta gula.
Diana Esnero

Um comentário:

  1. O esquerdismo é e sempre foi um delírio. Estavamos equivocados completamente. Abraço.

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"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade... sei lá de quê!"

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Rio de Janeiro, Maravilha!

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O sol se pondo e o Morro Dois Irmãos ao fundo! Beleza!

Meu papel de parede!

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