Terminei a releitura de um livro excitante: "Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos" de Rubem Fonseca. Interessante verificar como a releitura, agora, num momento maduro da vida, sem a pressa das épocas passadas de dias de muito trabalho, me fez ver o livro de uma forma totalmente diferente. Foi como se o tivesse visto pela primeira vez. Nessa releitura, sorvi cada parágrafo, as frases que se sucediam, diversas vezes, evocavam idéias e lembranças novas, tudo bem original, diferente da primeira vez que o li, anos atrás. Pude ir e voltar, avançar e retroceder páginas, e soou muito mais prazeroso. Um livro em que o suspense nos prende, os fatos ocorrem velozes, mas há momentos de reflexões e diálogos primorosos. Entre tantos, vou destacar aqui um pequeno trecho de diálogo, travado em um restaurante de nome Aschinger, em Berlim, entre a personagem principal do livro, um cineasta, leitor apaixonado por Isaac Bábel, escritor russo, autor de "A Cavalaria Vermelha" e Veronika, uma alemã bela e culta e também apreciadora de Bábel.
"Aqui", disse Veronika, "Bábel ensinou Canetti a olhar insaciavelmente para as pessoas, a entender as pessoas, sem julgar ou condenar."
"O que é essa tese que você mencionou?"
"Neue Empfindsamkeit? A nova sensibilidade."
A responsabilidade social e política, disse Veronika, não devia excluir a sensibilidade, a reflexão do indivíduo sobre si mesmo. A subjetividade não significava necessariamente um escapismo individualista. O que se buscava era um novo tipo de engajamento social, mais amplo, que não anulasse o indivíduo, não o submetesse a condicionantes sociais e políticas, à desumanização da sociedade e do Estado modernos.
Que grande reflexão, um momento em que parei a leitura para conjeturar, isso se fazia necessário. O prazer da leitura é algo indizível. Quantas vezes, em grandes autores, encontramos subsídios para nossas histórias mais particulares? Escrever, quase uma missão, uma seta que percorre e risca um caminho de emoções múltiplas: encantar, despertar, restaurar, encorajar, inspirar!
Diana Esnero
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