Evocações
Faz tempo que fugi dos teus olhos, do teu sorriso, da tua alegria escancarada.
Aquele teu olhar que me deixava totalmente sem raízes, árvore pronta a cair... Nas tuas doces amarras, no ancoradouro dos teus beijos.
É claro que morro de saudades a cada dia, especialmente naquelas oportunidades em que a esperança teima em brotar, germinar e aparecer de forma ousada, alimentando as expectativas mais inconsistentes.
Foste quase tudo em minha vida por um bom tempo. Inesquecíveis mares de calmarias e tormentas, a eterna simbiose da existência. Angústia e amores.
Um momento em que todas as minhas vontades e ansiedades eram aplacadas por ti, por tua perspicácia inigualável em me captar, mesmo nas estações mais nebulosos.
Interessante é perceber que a alma não descansa dos momentos de sonhos realizados em vida, em nossa história. Insistente essa carícia do fundo do ser, fustigando, querendo repetir.
Mesmo após os instantes sombrios, de negação das identidades em prol da continuação das fantasias. Pelos períodos de felicidade somos capazes de tudo ou quase tudo, na expectativa de que tais não cessem.
Temos o terrível receio de não suportar aquela dor fina, agulhada e profunda que nos acomete em cada partida que não se deseja. Até mesmo a que ocorre sem qualquer surpresa.
E ainda que saibamos que não vamos e nem podemos perecer, afinal não somos apenas nós que dependemos de nossa existência e forças, adiamos de forma inconsequente o instante de decisão.
Sabemos de antemão que a maior tristeza surge bem antes do fim imediato. Ela aparece sorrateira, precocemente, aos primeiros sinais dos perigos que não se sustentam mais.
E as construções mentais diante dos fatos que não se podem desmentir vão-se avolumando, cada gota, dia a dia. Gritam, esperneiam nos nossos ouvidos que disfarçam, surdos.
E as interferências do alheio ao qual pertencemos que, infelizmente, sempre aparecem, incomodando, espelhando em nossa face as raízes das impossibilidades brutas, dos compromissos anteriores.
Ah! Quanta saudade, quanta vontade de repetir incansavelmente cada um daqueles momentos, mesmo já sabendo o fim da nossa história!
Escrevo aqui e agora, escoltada de nossas lembranças apenas, acompanhada de um ou outro retrato que não tive coragem de arquivar, que está e estará sempre presente, prova viva da energia captada.
Escrever, doce exercício de evocações, companhia segura de meus sentimentos, tu não o lerás, nada saberás, no entanto é a mais genuína forma que encontrei presentemente de brindar-te, outra vez, em minha vida!
Diana Esnero
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